Governança Corporativa
- Alex Baumgartner
- 15 de fev. de 2020
- 7 min de leitura
Atualizado: 16 de mai. de 2022

Não se joga um jogo sem regras.
Lembre-se dos manuais de procedimentos que a maioria das empresas possui.
Eventualmente há uma certa distorção de entendimentos, comparando a governança com regras de burocratização.
Mas o objetivo da Governança Corporativa é justamente o contrario. São os regramentos e procedimentos que dão sentido e direção aos negócios, que determinam a maneira como a empresa é administrada, que reflete a sua cultura, políticas e regulamento interno.
Primam pela definição de responsabilidades, agilidade, transparência das decisões e ações, autonomia e gestão das atividades, independente do porte de uma empresa.
Significa desenvolver e aprimorar os processos de administração, seja na definição de linhas estratégicas do negócio, novos produtos ou projetos, novos mercados, e até mesmo em impasses entre membros de alta gestão, sócios ou diretores.
A Governança Corporativa é a profissionalização da empresa em todos os sentidos, indispensável desde o inicio do negócio, que visa a excelência na gestão e estratégia empresarial, alicerçada na transparência e clareza de seus atos perante o público interno e externo (stakeholders).
É o modelo pelo qual as empresas são dirigidas e monitoradas em seus relacionamentos entre Sócios, Conselhos, Diretoria. No caso das empresas de capital aberto, ainda estão relacionados: Auditoria Independente e Conselho Fiscal.
Um compromisso que depende da ação coletiva, pois abrange toda a empresa.
No cenário atual, não é incomum empresas que não tenham implantado essa visão como programa de gestão do negócio, mas acabam por sentir essa necessidade em momentos de captação de investimentos ou venda do negócio, sem mencionar nos momentos de crises de seu segmento.
De forma simples, a Governança Corporativa tem o objetivo visualizar o futuro de uma organização, planejar o caminho para este objetivo de acordo com as melhores práticas de gestão, e estabelecer as regras atuais para percorrer esse trajeto de forma mais saudável e segura possível.
Adicional: Stakeholders (Partes interessadas) - Acionistas, Investidores, Proprietários, Colaboradores, Sindicatos, Clientes, Fornecedores, Bancos, Governo, Concorrentes.
Princípios da Governança Corporativa
Empresas que mantêm programas de Governança Corporativa possuem maior credibilidade e valorização no mercado. E isso é justificável devido aos princípios fundamentais que regem um bom programa de governança, tais como: Transparência, Equidade, Prestação de Contas, Responsabilidade Corporativa.
Transparência
Busca estabelecer a relação de confiança com os colaboradores e público externo (stakholders) ao informar fatos positivos ou negativos, e também na solução de conflitos. É a fidedignidade e clareza da informação.
Equidade
Estabelece o tratamento igualitário de todas as partes interessadas das empresas.
Prestação de Contas
Ou Accountability, é a divulgação de ações e decisões, e seus resultados, inclusive omissões, bem como as consequências dos atos dos agentes da governança.
Responsabilidade Corporativa
Principio que se relaciona com a longevidade das organizações e visa a sustentabilidade social e ambiental. Baseia-se na responsabilidade dos agentes de governança em preservar a viabilidade econômica financeira do negócio como uma prioridade.
Benefícios da Governança Corporativa
Com o crescimento das empresas, os processos e fluxos de informação vão se tornando mais complexos.
Além disso, as transformações de mercado, competividade, instabilidades econômicas e avanço tecnológico contribuem para essa complexidade.
Com o aumento da competitividade no mercado global, as margens de erro tornam-se cada vez menores, pois seus efeitos podem ser irrecuperáveis.
Consequentemente, os interesses de acionistas, investidores, financiadores, stakeholders em geral, tornam-se cada vez mais centrados em informações qualitativas e equilibradas, seja no contexto societário quanto no mercadológico.
Nesse universo é que a Governança Corporativa se situa e a aplicação de um programa adequado pode permitir os diversos benefícios aos negócios, tais como:
Gestão Empresarial
Com a gestão corporativa, a empresa se organiza e é capaz de um pensamento estratégico bem elaborado, com visão de futuro e sustentabilidade do negócio.
Esse efeito se reflete diretamente na melhoria da gestão do negócio influenciando positivamente a qualidade das decisões e eficiência dos processos, seja da definição ou aprimoramento daqueles já existentes.
Valor de Mercado
Com as melhorias na gestão empresarial e as tomadas de decisões baseada no planejamento estratégico, a performance passa a ser adequadamente monitorada, os custos de produção tendem a diminuir e há menor risco de desvios de conduta.
Esses efeitos impactam diretamente no resultado financeiro de forma positiva, agregando valor à empresa pela evidencia de performance e pela transparência de informações e gestão estruturadas.
Valorização da Imagem
Um programa de Governança Corporativa bem estruturado garante que a missão, visão e valores ligados à identidade da marca da empresa sejam aplicados na prática.
Estrategicamente é a melhor forma de trazer a identificação do publico em geral, o engajamento com a marca através da relação com a verdade em que atua.
O goodwill se torna mais valioso.
Investidores
Empresas reconhecidas por gestão pautadas em transparência e boas práticas costumam ter as melhores condições de negócio junto a fornecedores, clientes, parceiros e instituições bancárias.
E essa condição permite atrair investidores justamente pela organização, prestação de contas e atuação que inspira a clareza e segurança necessárias para o investimento de capital.
A mesma visão se aplica no momento da venda de uma empresa.
Retenção e Atração de Talentos
A Governança Corporativa preza pelo interesse dos stakeholders e, nesse cenário, os colaboradores são recursos importantíssimos para o bom desenvolvimento do negócio.
Uma gestão correta tende a valorizar os talentos internos.
Políticas de desenvolvimento profissional de colaboradores, associado aos valores estratégicos da empresa, que os valorize, reduz grandemente a rotatividade de pessoal.
Simultaneamente, preserva a expertise técnica e o capital intelectual da empresa, principalmente o corpo estratégico.
Ao mesmo tempo, a imagem positiva da organização permite atrair os melhores profissionais qualificando ainda mais o quadro funcional.
Longevidade da Empresa
Como já mencionado, a Governança Corporativa tem o objetivo visualizar o futuro de uma organização, planejar o caminho para este objetivo de acordo com as melhores práticas de gestão, e estabelecer as regras atuais para percorrer esse trajeto de forma mais saudável e segura possível.
O planejamento estratégico é peça obrigatória e muito importante de um programa de Governança Corporativa.
É a visualização de longo prazo, mas que se apoia também em planejamentos operacionais e táticos, as métricas em direção ao objetivo.
Devido ao seu objetivo técnico, projetar e comparar, permite identificar oportunidades, precaver-se a cenários de risco e mudanças de rota, colaborando assertivamente com a sustentabilidade e longevidade do negócio.
Adicional: Planejamento Estratégico (Longo Prazo) 5 a 10 anos, Planejamento Tático (Médio Prazo) 1 a 3 anos, Planejamento Operacional (Curto Prazo) 3 a 6 meses.
Administração de Conflitos
Em uma empresa conflitos vão ocorrer inevitavelmente e por motivos variados.
O papel da Governança Corporativa é administrar com imparcialidade e independência a forma com que os conflitos são tratados.
Para isso, utiliza-se da transparência e processos bem definidos e documentados, tornando a administração de conflitos mais amena e menos emocional, preservando os interesses do negócio.
O programa de Governança Corporativa
Para implementar uma cultura de governança é primordial, inicialmente, identificar quais valores são essenciais para a empresa.
É comum a cultura corporativa se estabelecer de forma genérica em valores como responsabilidade, transparência e eficiência, para então desenvolver estruturas específicas de implementação desses valores.
Não se tratam de regras idênticas pois cada negócio tem suas particularidades tais como porte, gestão familiar ou não, capital aberto ou fechado, empresa em fase inicial ou não.
Portanto, as necessidades e etapas devem ser avaliadas e alinhadas de acordo com cada realidade financeira e especificamente para cada negócio.
Diagnóstico
Levantamento de informações que ofereça as condições necessárias para a adequação dos princípios e práticas à cada realidade empresarial e ao setor de atuação, além de considerar as especificidades do relacionamento entre stakeholders internos e externos.
No caso de empresas nacionais familiares, o quesito mais importante é a separação clara entre propriedade e gestão, garantindo a profissionalização, sucessão planejada e a segregação dos interesses pessoais e da empresa.
Conselho e Holding
Em se tratando especificamente de uma empresa de gestão familiar, é necessário iniciar o processo com a criação de um Conselho Familiar com o objetivo de discutir conjuntamente, definir e estabelecer os objetivos e as regras do negócio, bem como segregação de ativos pessoais e da empresa, empréstimos de recursos, idade para integrar a empresa, contratação de familiares, entre outros.
As regras definidas nesse conselho devem ser formalizadas em documento oficial e estabelecida a estruturação de uma Holding Familiar, considerando aspectos jurídicos de planejamento societário, sucessório e tributário.
Estrutura Organizacional
É necessário estabelecer clareza de hierarquias de forma que cada colaborador saiba exatamente a quem responder.
Empresas em crescimento comumente possuem funcionários que exercem mais de um tipo de função simultaneamente, recebendo diversas demandas. Essa pratica pode prejudicar vários aspectos do negócio uma vez que compromete a capacidade de entrega de cada colaborador e enfraquece as lideranças.
Cargos devem estar alinhados com o grau de responsabilidade que o colaborador possui no negócio.
Nesta etapa são consideradas as estruturas diretivas temáticas tais como Controladoria, Finanças, Contabilidade, Comercial, Recursos Humanos, entre outras a depender da estrutura empresarial.
São também definidos os escopos de atuação dos agentes de Governança Corporativa bem como disseminada a cultura de gestão de riscos e responsabilidades.
Inicia-se nesse ponto a relação com o Compliance.
Conselho Consultivo
É um grupo formado por profissionais de maior experiência profissional e perfis distintos, indicados pelos sócios, de mercado ou internos, com alta capacidade e comprometimento.
O objetivo é facilitar o compartilhamento de experiências e sugestões para a gestão da empresa, mantendo contatos periódicos e reuniões específicas de conselho, conforme a definição estabelecida pela Governança Corporativa, para discutir temas diversos de longo prazo como inovações, eficiência, relevância no mercado, lucratividade, bem como elaboração de plano de negócios, aprovação do planejamento estratégico e orçamentário.
Além disso, esse Conselho fiscaliza os atos da diretoria executiva, principalmente se as decisões do dia a dia estão diretamente ligadas aos objetivos de longo prazo.
Em empresas em estagio mais avançado, ao invés do Conselho Consultivo, esse papel é exercido pelo Conselho de Administração.
Fiscalização e Controle
Do ponto de vista de fiscalização e controle, as ações são a criação de um processo estruturado de auditoria interna e auditoria das demonstrações contábeis efetuadas por auditoria externa independente.
Neste caso, o planejamento e a relação de subordinação devem ser diretamente com o Conselho Consultivo ou Conselho de Administração, a depender da estrutura organizacional da empresa.
Direcionadores Empresariais
São os norteadores fundamentais do negócio, expressos em intenções, prazos, normas de conduta, voltados ao desenvolvimento e crescimento.
Nesta fase a empresa já conta com uma estrutura mínima que serve aos interesses e propósitos de longo prazo e é o momento de desenvolvimento dos direcionadores empresariais que são: missão, visão, valores, códigos de conduta, plano de negócio e aprovação do planejamento estratégico, tático e operacional, bem como o planejamento orçamentário e plano de investimentos, se necessário.
Politicas Internas
São as normas e procedimentos internos da empresa, fundamentais para a formalização de processos que devem ser adotados pelas organizações.
Suas bases de elaboração devem ser pautadas nas melhores praticas de Compliance, com o objetivo de padronizar as atividades, fornecer padrões de medição, reter expertise técnica, assegurar a integridade das informações, delimitar a conduta operacional e prevenir seus eventuais desvios e riscos operacionais, bem como peças fundamentais de confrontação utilizadas por auditorias.
Como já mencionado, um bom programa de Governança Corporativa deve ser desenvolvido e alinhado de acordo com a realidade financeira e de negocio de cada empresa.
Mas é primordial que seus princípios fundamentais sejam considerados, uma vez que oferece as bases necessárias para relação adequada entre os agentes gestores e seus stakeholders, conservando a independência nas decisões e relações hierárquicas, melhorando o processo decisório, e tornando o negócio atrativo ao mercado e com sustentabilidade de longo prazo.
Transparência, Equidade, Prestação de Contas, Responsabilidade Corporativa são princípios fundamentais de qualquer negócio.
Alex Baumgartner
Controller, Gerente de Controladoria, Finanças, Contabilidade e Custos
Coach em Finanças Pessoais, Novas Carreiras e Novos Negócios https://www.alexbaumgartner.net/
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